terça-feira, 17 de maio de 2011

Os vigias*

De cima do muro
olhando o presídio
de armas em punho
olhos fixos
ouvidos atentos
Atentos a quê?

Eles não sabem!

Lá de cima
de pé
de plantão
os vigias
não sabem o quê
nem pra quê
vigiam

só estão lá!

E não sabem
ou fingem
ou é melhor
ignorar que:
são vigiados!

Há algo mais
que homens armados
a vigiar
a punir
a controlar
há olhos eletrônicos
há tecnologia de poder
há invenções vigilantes

Os vigias esperam
não se sabe
até quando(?!)

Sabe-se que
lá dentro
da cela
do cárcere
da mente
há algo que

simplesmente

não se vigia!

* Laila, em 15/04/11, em viagem cotidiana para Ribeirão da Neves, contemplando os vigias em cima do muro das unidades prisionais.






quinta-feira, 5 de maio de 2011

Meu inimigo Lobo




(Psiquiátrico?)

Aqui dentro mora um lobo,
(aponto com o dedo indicador para o meu rosto)

Tem dois metros da pata até o focinho,
Pelo branco, grisalho, com os olhos escuros. (Mas é um menino)

Olhos atiçados em buscar novidades,
Gosta de ver o mundo em mudanças.

Anda imponente,
Como os solitários intuitivos.

Que olham de fora do corpo
Pressentem os desígnios.

Gosta do cheiro do colo das meninas
Do som de suas vozes.

Gosta da fumaça do cigarro,
Dos desenhos que ela faz.

Saliva frente a cachaça,
Delírio de vinho.

Animal noturno,
Luz só a minha e a do luar.

Ser das disputas
Alimentado da grande política.

Meu inimigo mais próximo...
Devo cuida-lo e controla-lo.

Amo
e
Temo.

Quando não o levo para passear,
E o deixo correr solto, livre.

Mastiga-me por dentro,
Alimenta-se de tudo que tem luz.

Meus olhos fervem,
Meu corpo, internamente, é mutilado.

Mais vivo,
Mais morto.

Lhe dou placebo , Respiridona,
Rivotril, Lítio e Carmomazepina.

Para que hiberne como um urso,
Ou apazigue como um elefante com amarula.

Doces venenos do nosso convívio contínuo,
Por caminhos distantes, horizontes.

Nessa estória,
Mentira é só minha loucura.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Para uma genealogia da palavra

(Laila)
E nem se podia dizer
palavra
pois de consciência
que aquilo era
palavra não se tinha

A palavra não se sabia
mas já se sabia ou se ouvia
rio, flor e cotovia

Não tinham nomes
não nomeados
mas de cheiro e cor
já se faziam

não se definia o gosto
mas era bom
comer banana
ou peixe todo dia

O dia amanhecia
e anoitecia
mas que era assim
que se chamaria, não se inferia

à noite
não se dava conceito
mas já de muito tempo
já existia
era nela que
pato, onça, cavalo
homem e mulher
dormia

A chuva
refrescava da ensolarada
mas que era isso
ninguém se valia

a semente caía
da boca do pássaro
e daí virava:
arvore e flor
e fruto
e outra de novo
mas mesmo assim
não se sentia

e depois foi
palavra que
veio dando nome
e verbalizando
e fazendo
tudo o que existia,
mas já existia!

Mas agora tudo ganha um lugar
e vai no papel ficando
porque História
é galhardia!

O que foi
depois nem se ouvia!

E foi surgindo
machado, foice, pedra lascada,
e o trabalho ia forjando valentia!

E levantou a coluna
e foi andando
de dois pés
e foi-se fazendo
voz
pra garantia

E passou a
mudar as coisas
e foi conceituando tudo
e pra tudo uma serventia

E tirou coisa do lugar
e foi fazendo
mais coisa
de quem nem precisaria

e foi achando
mais necessário
e chegou-se à mais-valia!

E explorados
e alienados
enxergar
ninguém mais podia

E era por música,
propaganda
que se ia
propagando
tudo o que fosse
compra podia

E achou que
representado
ele podia
no poder democracia

e foi-se perdendo
no ter
e deixou de ser
quase mais não se fazia

o material que
transforma no processo
se perdia...

e teve que
achar jeito
de mudar
assim se organizaria

e pretendeu
fazer outro poder
e de forma que
participaria

porque já de
não ser
não gostava
e viu que de outro
modo seria

está praticando até hoje
porque do pesadelo
acordou o dia
em que acreditou
que
o mundo todo Revolucionaria!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Nas asas de Ícaro


(Psiquiátrico ?)



Meu corpo muda,
Com um sopro leve do coração,

Dez mil beija-flores
Uma canção

E minha razão,
Repousa
Nas asas
de
Ícaro