sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MORO NESSA CASA VAZIA

Eu moro aqui nessa casa
Vazia por certo, deserta!
Tenho água encanada,
Luz elétrica, comida farta
Isso me basta!

Tenho empregada doméstica
Que vêm todas as quartas
Livros que me distraem...
Samambaia plástica...
Faço ginástica!

Tenho bons filmes na tela

Vela para imprevistos,
Tenho carteira que como lábios
Pede amor por tele sexo!
Conto anedotas...

Aburguesado vou à balada
Derramo vodka
Com energéticos,
Sou mesmo foda e
Tomo remédios...

Minha família é um fantasma
Escuto trance ou tecno...
Me manifesto pela internet
Adoto uma árvore...
Sou agnóstico!

O operário da obra é brega... e fede!
Imprestáveis os que fazem greve!
Tenho nojo de quem sua, toda plebe!
Malditos sem-terra...

Eu xingo toda a gentalha!
Estaciono meu carro,
Faço plano de saúde...
Aciono o alarme...

Eu moro aqui nessa casa, vazia por certo!
Como meu cérebro!

ENTROPIA MONETÁRIA



Se a música me embala e a cantiga vem, me nina!
Se o cheiro do incenso me domina e a mágica me cala.
Num susto pelo álcool que embriaga, absinto em meu soluço!
É a droga que me fere e me fareja, quase minto!

Sabem assim, dessas mensagens tão sublimes
Que me estudam os detalhes dos sentidos
Embaralhando meu desejo a um abismo,
Gritam que eu salte! Mas por favor, não me maltrate!

Se a energia quando eu compro é cara,
Já quando vendo se traduz em meu salário.
Entropia monetária? Quem se apropria?

Obedeço a um principio claro!
Trabalho!

Minha força não se mede em joules
Perde-se em física jornada,
Contam horas de entrega e me pedem
Mais um samba, mais um trago

Um crime é cometido contra o caráter
Em minha tábua entalham leis com a chibata
Guardas me calam... Dai-me a cachaça!

Se o sino da igreja marca as horas nos badalos
Me engana o padre, quando falo de pecados
Sendo a bíblia um engodo genocida, então me calo!

A fábrica marca o tempo num apito
Meu patrão é um monarca, devo-lhe a vida!

Se as bandeiras da torcida se maltratam
E os dois times em verdade, são o mesmo!
Quem desejo ver metendo a mão na taça?

Na TV passa um programa apelativo
E como obvia reação eu me masturbo.
Dai-me mais dessa piada, somos o circo!
Cerquem os soldados, metam na jaula!

Meus instintos se enroscam em cada esquina
E como peixes, mordem iscas, eles me fisgam
E me desvio de mim mesmo, e me procuro!
Por mais que pense, quase macaco. Me domesticam!

Se os estandartes de minha escola se descolorem
Ao perceber meu carnaval nascer do crime
Em quem confio?

Tudo que passa, cobre um pouco meu domínio!
Em meu pulso um relógio me retarda!
Raízes velhas, quase invisíveis são violadas...
Como faço? Como entendo tudo isso?

E o poema, como sai dessas amarras?
Seqüestrado, preso em algemas! Arrebentado!
Sempre caio em armadilhas! Elas são lindas!

E a alma? Que resgate é exigido!
Como trago? Se a fumaça fecha os olhos de meus filhos!
Como toco aquela pérola escondida, no infinito?

Um represa se constrói em nosso rio!
Quase um incêndio na floresta de meu instinto!

Se o universo trama e conspira...
As borboletas batem asas na Austrália
O que eu tenho a ver com tudo isso!?
Se lá na Grécia, tem um povo que batalha
Me tocam pedras Palestinas, vindas das fundas!

Se os búzios se contorcem no balaio e contradizem
O que sinto aqui no peito, bem no fundo...
E me revolto! Meio confuso!

Essas idéias vêm assim tão primitivas
E me assaltam bem de leve, como libélulas!
Me incomoda uma pontada dentro da carne
Vem perfurando minhas camadas, como um dardo
Em meu alvo... Em minhas células! Como um berne!

Sem mais silencio, nem se camufla... Me desafia!
Tal qual mística esfinge...
Dor de cabeça!

E o perfume da senzala regozija em minha alma e nas narinas!
E pela noite meu cavalo vai relinchando solto no pasto!
Do oceano vem uma brisa... A tempestade!
Algo me diz que liberdade é mais que isso!

Mas o que faço?

Se a musica me embala... O álcool me embriaga... O meu time mete a mão na taça... Minha escola vai para o samba desinibida... Dança a mulata, decotes fartos... E meu sorriso faz-se sem pressa... Vai meu poema, cambaleado pela cachaça!