terça-feira, 6 de setembro de 2016

Como Adão treinando cães no paraíso

São ciganos, são artistas, clandestinos,
São mambembes, saltimbancos, bailarinos.
Vagabundos, bandoleiros, nordestinos,
Menestréis, bucaneiros, libertinos.   

Imigrantes, tuaregues, beduínos.
A barbárie! - Como aves, cantam hinos.
Andorinhas ancestrais, são andarilhos!
Coletores, caçadores, são os índios.
Otavalos, artesãos, fora dos trilhos!

Forasteiros, estrangeiros, peregrinos,
Dessas tribos de turbantes, caminhantes,
São piratas, são mendigos.
Navegantes sem lanternas, sem abrigos.

São os filhos do deserto, da desgraça, do destino.
Desterrados, refugiados, foragidos.
Assaltados pela fome, pela peste perseguidos.
São gerados pela guerra, hecatombes coletivas...

No Egeu afegãos são afogados,
São os Sírios assaltados na Turquia.
Palestinos perseguidos qual judeus em 39
São antigos Iugoslavos...
Zapotecas de Oaxaca em nove quatro.
São os negros Louisianos agredidos!

Os que passam, que não ficam...
Os que voam como pipas num ciclone,
Que salpicam-se do ninho como pássaros e
Como nuvens de fumaça se duplicam
Que passeiam sobre o pasto e não ruminam!
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Todos... todos esses que hoje batem minha porta
Que golpeiam com seus cascos, minha terra
Que se brotam como flores no inverno
Como esporos em diáspora, como expurgo
Uma bagunça, uma baderna...

Tumultuam minha Londres tão tranquila,
Aborrecem os limites de meu burgo pós-moderno!
Como hunos cerceando minha Roma que cochila!

Eu martelo mais um prego no palanque
Faço cercas mais espessas, armo o rifle
Eu protejo o Partenon para meus filhos
Cavo fossos mais profundos, como abismos.
Ergo muros, abro valas, meto balas

Em meu Éden, purifico minha pele
Meu genoma preservado num console
Como Mickey defendendo seu castelo
Rapunzel cortando as tranças no refúgio...

Dou risadas, sou o branco que gargalha
Sou o braço que humilha!
Esfregando a genitália na pereba
Desse Lázaro horrendo que trabalha.

Como Adão treinando cães no paraíso
Preservando o bem viver em meu jazigo
Minotauro bem nutrido em labirinto
Assistindo com orgulho o suicídio 
Dessa parte, ser humana, que me habita.